A criança que fui chora na estrada.
Deixei-a ali quando vim ser quem sou;
Mas hoje, vendo que o que sou é nada,
Quero ir buscar quem fui onde ficou.
Ah, como hei-de encontrá-lo? Quem errou
A vinda tem a regressão errada.
Já não sei de onde vim nem onde estou.
De o não saber, minha alma está parada.
Se ao menos atingir neste lugar
Um alto monte, de onde possa enfim
O que esqueci, olhando-o, relembrar,
Na ausência, ao menos, saberei de mim,
E, ao ver-me tal qual fui ao longe, achar
Em mim um pouco de quando era assim.
Olá, Mónica,
Lindo o texto que escolheste para o Recreio das Letras. emocionei-me.
Gostei que tivesses participado. Os alunos é que têm que ser o grande motor deste Recreio. Ponham-lhe baloiços, asas ou anjos. O importante é sempre as alturas.
Comovi-me com o texto de Fernando Pessoa. Andava esquecido na memória do que li.
Beijinho 🙂
Mónica,
Esqueci-me de te confessar um segredo. Aqui vai:” A criança que fui chora na estrada”.
É lindo, é para mim o poema mais bonito de Fernando Pessoa.
Um poema de despedida, mas ao mesmo tempo de uma memória que perpetua nas nossas cabeças- a nossa infância.
Tempo puro, tempo em que brincar não era proibido, em que a nossa vida geria à volta de brincadeiras, choros birras, tempo em que a inocência era o nosso maior bem.
Nunca podemos esquecer essa altura.
Essa será sempre a nossa maior memória, pois a criança que fomos “chora na estrada” do pensamento.
Até à próxima aula.
Rui Silva
Olá.
Este poema é complicado, mas por ser complicado torna – o ainda mais interessante e envolvente.
Palavra a palavra, vou concordando mais com Pessoa. Quando crescemos e nos torna – mos adultos, por vezes, deixamos de ser quem realmente somos, esquecendo até quem fomos e o que fomos. Quando nos dá – mos conta disso, já não há nada a fazer, podemos tentar e tentar, mas tal como Fernando Pessoa afirma: “Ah, como hei-de encontrá-lo? Quem errou / A vinda tem a regressão errada”.
E nesta onda de arrependimento e de dúvidas surgem tantas perguntas das quais as respostas podem ser bem desanimadoras “Já não sei de onde vim nem onde estou”;”o que sou é nada”.
Ás vezes gostava de ser para sempre adolescente. Crescer é bom, mas quanto mais adultos nos torná – mos, mais responsabilidades, mais preocupaçoes e mais trabalho temos…mas claro que a fase adulta também tem aspectos positivos.
Beijinho 😉
Virgínia,
Sempre presente e com a sua inocência contagiante.
Agora uma nota: vamos ter que cunjugar muitos verbos. Pode ser?
Depois falamos mais em particular.
Beijoca. 🙂
Todos nós procuramos a inocência e ingenuidade que tínhamos quando a inteligência parecia algo tão distante… Afinal, viver na ignorância pode ser a chave para a felicidade, apesar de todas as pessoas procurarem a verdade absoluta.
Mais um exemplo de soneto fantástico, que para mim continua a ser a melhor criação poética existente, com todo o seu charme subentendido e a conclusão inacabada do pensamento efectuado nas primeiras 3 estrofes.
É Fernando Pessoa…
Mário,
É Fernando Pessoa, sim! Palavras para quê?
Bom fim de semana.
Beijinho
🙂
Ao estudar Fernando Pessoa ortónimo, creio que a Mónica me falou deste poema dizendo que gostava muito. Aproveitámos, depois, para o ler na aula a propósito da nostalgia da infância.
Todos choramos a criança que fomos até porque o tempo nos faz interiorizar e tornar ideais determinadas fases… Que agora possamos «atingir um alto monte».