Memórias de uma visita de estudo, para uma melhor motivação e compreensão do MEMORIAL DO CONVENTO de José Saramago, Nobel da Literatura em 1998.
Depois da visualização da peça de teatro “Memorial no Convento”, no passado mês de Janeiro, adaptação do romance homónimo de José Saramago, e com o objectivo de nos sensibilizar para uma melhor percepção e interiorização das ideias fundamentais desta narrativa histórica, que será, brevemente, objecto de análise, a Escola Secundária Dona Maria II proporcionou aos alunos do 12º ano a oportunidade de uma visita de estudo ao ostentoso Convento de Mafra, palácio e monumento de estilo barroco, e ao Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça, mais conhecido como Mosteiro de Alcobaça, a primeira obra gótica construída em território português.
No passado dia dois de Março, ainda de madrugada, o corpo estudantil, confortavelmente instalado no seu respectivo autocarro, partiu rumo ao centro de Portugal. A chegada ao Convento de Mafra deu-se por volta das dez horas e quarenta minutos, onde éramos esperados pela nossa guia, que iria acompanhar-nos e dar-nos a conhecer um pouco mais da história e de toda aquela arte, outrora construída.
Fomos recebidos à entrada do edifício, onde nos foi dada uma rápida contextualização histórica e arquitectónica do mesmo.
Tratava-se do mais importante monumento do barroco português, mandado construir por D. João V, em consequência de uma promessa que o jovem rei fizera caso a rainha D. Maria Ana de Áustria lhe desse descendência.
O conjunto arquitectónico desenvolve-se simetricamente a partir de um eixo central, a Basílica, o elemento principal de uma longa fachada ladeada por dois torreões, localizando na sua zona posterior o recinto conventual da ordem de S. Francisco.
A direcção da obra coube a Johann Friedrich Ludwig, ourives alemão, com formação de arquitectura em Itália, que adoptou um modelo barroco clássico, com alguma influência germânica. As obras iniciaram-se em 1717, ano do lançamento da primeira pedra, e a 22 de Outubro de 1730, dia do 41º aniversário do rei D. João V, procedeu-se à inauguração da Basílica.
No reinado de D. João VI, o Palácio foi habitado durante todo o ano de 1807. Na maior parte do tempo, foi visitado apenas esporadicamente, o mesmo se passando após o regresso da corte a Portugal. Do Convento partiu para o exílio o último rei português, D. Manuel II, depois de proclamada a República, a 5 de Outubro de 1910.
Após esta breve introdução histórica, demos entrada na requintada Basílica, onde se encontra a melhor colecção de estátuas italianas existentes em Portugal, do século XVIII. Possui um conjunto sonoro de seis órgãos, únicos no mundo, para os quais existem partituras que só neles podem ser executadas. Observámos os carrilhões (dois conjuntos de 46 sinos cada, com cerca de 27 toneladas) mandados fabricar em Antuérpia, por D. João V, capazes de tocar valsas e contradanças e, como tal, considerados como os melhores do mundo.
Passando pelo hall bastante amplo e iluminado, com algumas vestimentas femininas expostas em vitrinas e onde se encontrava o exuberante coche de D. João V em repouso, dirigimo-nos à escadaria, que daria acesso ao terceiro andar.
Uma vez no interior do Palácio, ao passar por entre toda aquela riqueza e perfeição, fomo-nos sentindo embalados por todos aqueles velhos e opulentos sonhos de D. João V, de tal modo que não foi difícil sermos conquistados por todo o patriotismo ali persistente durante séculos, que fazia sentir que parte da nossa essência pertencia ali, levando-nos a experimentar a sensação de que realmente somos parte de Portugal.
Para findar esta visita pelo Convento de Mafra, rendemo-nos aos encantos da mais típica biblioteca monástico-real do século XVIII existente em Portugal, de estilo rocaille, com aproximadamente 40 mil volumes. A maior parte destes foram encomendados por D. João V e tratam temas diversos, como Direito Civil e Eclesiástico, Medicina ou Física Experimental. Os Frades Franciscanos, outrora ali residentes, ocupavam-se da encadernação dos volumes e conservavam a Biblioteca.
Contudo, os morcegos, que também lá habitam, têm um papel indispensável: não permitem que as traças destruam as obras, contribuindo, deste modo, para a conservação de todos estes raros volumes.
Pela hora de almoço, dirigimo-nos ao Jardim do Cerco, que nos cativou de imediato pelas suas dimensões, cores e aromas.
E foi com uma alegre saudade que partimos em direcção ao Mosteiro de Alcobaça.
Pelas quatro horas e vinte minutos, chegámos a Alcobaça. Saímos dos nossos autocarros e dirigimo-nos ao Mosteiro. Desta vez, a visita foi guiada pelo professor Rodrigo Azevedo, que muito bem transmitiu a história da Abadia.
A igreja e o primeiro claustro foram construídos entre 1178 e 1240, no estilo pré-gótico, com passagem pelo românico, tendo a Igreja sido inaugurada em 1252 e reconhecida como a primeira obra gótica erguida em solo português. É uma das maiores abadias construídas na Europa, com uma fachada de 43 metros, ornamentada por várias estatuetas de estilo barroco.
Em tempos, os cistercienses procuravam a modéstia, a humildade e o isolamento do mundo para um íntegro serviço a Deus. Como tal, a arquitectura da igreja de Alcobaça exibe uma estrutura simples e sóbria. Apesar da sua enorme dimensão, o edifício apenas sobressai através dos seus necessários elementos de estrutura, que se dirigem ao céu.
É neste edifício que se encontram os túmulos de D. Pedro I e de D. Inês de Castro. Duas verdadeiras obras-primas da escultura gótica, cuja construção, de autoria desconhecida, se situa entre 1358 e 1367. Encontram-se um em cada lado do transepto, proporcionando um grande significado e esplendor à igreja.
Inês de Castro está representada com uma expressão serena, rodeada de anjos e coroada rainha, com a mão direita tocando a ponta do colar que lhe cai do peito, enquanto a esquerda, enluvada, segura a outra luva. “Aos montes ensinando e às ervinhas / O nome que no peito escrito tinhas.” (Os Lusíadas – Canto III, estrofe 120).
D. Pedro I, também representado com uma expressão pacífica, surge coroado e rodeado de anjos. A mão direita segura o punho da espada, enquanto a esquerda agarra a bainha. Nas faces dos túmulos, estão representados, nas frontais, a Infância e o Martírio de S. Bartolomeu, nas faciais, a Roda da Vida e a Roda da Fortuna e, ainda, a Boa Morte de D. Pedro.
Em síntese e tendo como base a opinião geral dos estudantes que participaram nesta viagem, a visita ao Convento de Mafra foi verdadeiramente enriquecedora e marcante. Fez-nos viajar no tempo e imaginar-nos a passear por aqueles espaços na real companhia de D. João V. Quanto ao Mosteiro de Alcobaça, embora apenas tenhamos visitado a Igreja, ele atraiu-nos particularmente pela presença dos restos mortais daqueles dois amantes que jazem juntos até hoje, frente a frente, para que, conforme a lenda, “possam olhar-se nos olhos quando despertarem no dia do juízo final”. No final deste dia, regressámos a Braga, um pouco mais cultos e conhecedores da história do nosso país.
Parabéns, Ana Margarida, pela capacidade de leitura analítica e crítica que revela nos seus textos e pela sua escrita prazerosa!
Reitero os meus parabéns à Ana Margarida pela crónica de viagem , pela lição de história e pela veia poética com que pincelou o texto que, inequivocamente, enriqueceu o «Recreio das letras» da escola. Venham mais textos!
Estendo os parabéns à professora.
Decerto deve ter sido uma viagem maravilhosa, no qual roo-me de inveja.
Quem diria que numa visita de estudo se pudesse aprender tanto e de tal maneira…
Rui Silva
(Boas Páscoa e moderação nos doces)
Rui,
Depois digo-te uma coisa em segredo, mas ainda bem que leste este magnífico texto.
Obrigada pelos conselhos.
Beijoca 🙂
A toda a família do Recreio das Letras
BOA PÁSCOA
Francisca e Mafalda
Visitar lugares com história é das actividades mais enriquecedoras e entusiasmante em que podemos participar, até porque além de adquirirmos conhecimentos, dá sempre lugar ao imaginário. Ao ler o texto senti uma enorme vontade de voltar a lá ir, pois já fiz essa viagem há algum tempo.
A descrição da visita está realmente fantástica 🙂
Julgo ter ficado com conhecimentos bastante detalhados tanto sobre o Mosteiro de Alcobaça como sobre o Convento de Mafra.
“Contudo, os morcegos, que também lá habitam, têm um papel indispensável: não permitem que as traças destruam as obras, contribuindo, deste modo, para a conservação de todos estes raros volumes.”
Achei imensa piada!
Sim Senhor, foram deveras sortudos. Quem me dera a mim ter ido. Talvez para o ano ou daqui a dois anos a professora leva-nos, era uma boa ideia nao era?:D
Um beijo para a Professora.
André, Inês e Tomé,
Certamente que farão esta visita a Mafra no 12º Ano. Vale mesmo a pena.
BEIJOCAS 🙂 🙂 🙂
O texto está mesmo bonito e a viagem pareceu-me bastante interessante.
É assim que se aprende a história de Portugal de uma maneira interessante .
Parabéns pelo texto.
Beijinhos 🙂
Isabel Marques
Isabel
É uma viagem interessante e vais gostar quando a fizeres.
ISABEL
Esqueci-me de te deixar um sorriso e tu bem precisas…
Beijinhos e toma lá 🙂 :=) .) 🙂